sexta-feira, 20 de abril de 2012

Estudo aponta possível avanço para tratar paralisia cerebral


Um novo tratamento ajudou coelhos nascidos com paralisia cerebral a recuperar uma mobilidade quase normal, fazendo surgir a esperança de um potencial avanço no tratamento de pessoas com este distúrbio actualmente incurável, afirmaram cientistas.
O método, parte do campo crescente da nanomedicina, funcionou libertando um medicamento anti-inflamatório directamente nas partes comprometidas do cérebro através de minúsculas moléculas em cascata conhecidas como dendrímeros.
Crias de coelho tratados após seis horas do nascimento registaram uma «melhoria dramática na função motora» no quinto dia de vida, disse a autora principal do estudo, Sujatha Kannan, do Instituto Nacional de Saúde Infantil e do Departamento de Pesquisa de Perinatologia e Desenvolvimento Humano dos Estados Unidos.
O estudo foi publicado no jornal científico americano Science Translational Medicine.
Os coelhos que nasceram imóveis por causa da paralisia infantil movimentavam-se em «níveis quase normais no quinto dia», destacou um artigo que acompanhou o estudo e foi publicado no mesmo jornal pelo pediatra Sidhartha Tan, de Chicago.
O medicamento usado é frequentemente aplicado para tratar pessoas com intoxicação por acetaminofeno (paracetamol), conhecida como N-acetil-L-cistina ou NAC, e foi administrado numa dose 10 vezes menor.
No entanto, foi bem sucedida porque o método de nano-entrega permitiu que cruzasse a barreira sangue-cérebro, desactivando prontamente a inflamação no cérebro.
Kannan explicou que a sua equipa usou coelhos como cobaias porque, assim como os humanos, os seus cérebros desenvolvem antes e depois do nascimento, enquanto a maioria dos outros animais nascem com as suas habilidades motoras já formadas.
«Uma vantagem disso é que podemos testar tratamentos e olhar para a melhoria na função motora usando este tipo de modelo animal», explicou a médica.
Enquanto especialistas afirmam que levará anos até que se conheça totalmente esta abordagem, a pesquisa demonstra uma prova de conceito importante que algum tipo de intervenção precoce consegue inverter o dano cerebral.
«A importância deste trabalho é que este indica que há uma janela no tempo, imediatamente após o nascimento, quando a neuroinflamação pode ser identificada e quando o tratamento com um nanodispositivo pode reverter os efeitos da paralisia cerebral», afirmou o co-autor do estudo, Roberto Romero, obstetra do Instituto Nacional de Saúde Infantil e Desenvolvimento Humano.
A paralisia cerebral afecta cerca de 750.000 crianças e adultos nos Estados Unidos e a sua taxa de prevalência é de cerca de 3,3 por 1.000 nascimentos, segundo Romero.
O distúrbio pode causar dificuldades severas em controlar os músculos, incapacidade de caminhar, movimentar ou engolir. Alguns pacientes também podem sofrer atrasos cognitivos e anormalidades no desenvolvimento.
Uma das principais causas da paralisia cerebral é o nascimento prematuro, fenómeno em ascensão, mas a doença não costuma ser diagnosticada antes dos dois anos.
«No momento em que fazemos o diagnóstico, há muito pouco que podemos fazer», disse Romero, descrevendo a paralisia cerebral como «uma doença incurável para toda a vida».